5 de jul. de 2020

O Cálculo Diferencial e Integral ao toque de um dedo.


Em dada vez quando aplicava avaliação de Cálculo Diferencial e Integral 3 em uma turma de Engenharia para aferir o conhecimento adquirido sobre conteúdos básicos de Integrais envolvendo Funções Hiperbólicas Diretas e Funções Hiperbólicas Inversas (ou Funções Argumento) fui surpreendido (uma vez mais) com a realidade acadêmica (mesmo depois de mais de 40 anos).

DIAS, C. M. C. - 2020

Como de costume aquela avaliação estava programada para ser realizada sem consulta alguma, sem uso de calculadora e sem formulários. Todavia, após repassar minhas tradicionais e conhecidas recomendações, disse: “a avaliação de hoje poderá ser realizada com CONSULTA a todo material e recursos que estejam em seu poder agora; mas, a avaliação continua sendo individual não podendo consultar, também, fisicamente os colegas desta sala”.

Foi muito estranho. Inusitado tanto para os Estudantes quanto para o Professor. De imediato, meio que atordoados, os Acadêmicos entreolharam-se, parecendo não querer acreditar naquela situação que estava acontecendo.

Depois de um breve silêncio mortal, alguém lá do fundo (em tom de gozação) perguntou: “posso mandar mensagens pelo meu celular para minha mãe, Professor?”. Ao que respondi de imediato: “claro que sim; e pode utilizar, também, tudo que tiver consigo, tipo: acesso à internet, livros, caderno de aula, notebook, smartphone, régua de cálculo, tablet, formulários, código Morse, WhatsApp, sinais de fumaça, dentre outras formas de acesso à informação; só não pode sair da sala, consultar por meio físico outro colega dentro da sala ou receber “fisicamente” (pela janela, por exemplo) material de fora da sala”. Outro colega do lado, não se contendo, falou: “desta vez morri; não acredito; só trouxe a caneta”.

Após a natural agitação, os Estudantes pareciam ter entendido finalmente que a situação era real e começaram, enfim, a realizar a avaliação. Mas, não tardou se escutava: “não pode ser, esta questão tinha na última lista de exercícios”; “está número 4 eu resolvi de novo hoje de manhã”, “esta questão eu vi há pouco na lista enquanto estudava”, “que massa, todas as questões são iguais às das listas”.

De repente, novo silêncio; só que desta vez um pouco mais longo e ainda mais mortal. Não se percebia movimento algum.

Porém, passados poucos minutos depois, surpreendentemente, muitos Estudantes começaram a entregar as avaliações, mesmo faltando ainda cerca de uma hora para terminar o prazo.

Alguns Estudantes ao entregar as avaliações me diziam: “assim não vale Professor, esta sua prova é uma cópia dos exercícios resolvidos e não tenho mais eles”, “se tivesse trazido as listas, teria gabaritado, tiraria dez”, “que droga, apaguei todos os exercícios do celular, sempre apago porque sobrecarrega demais”, “meu tablet estava sem bateria”, “não tenho mais aquelas suas listas de exercícios”, “não trouxe as listas de exercícios”, “achei que as listas não serviam para coisa alguma”, “bem na hora que achei as questões me acabou a bateria do computador e não trouxe o carregador”.

Detalhe: sempre após concluir um capítulo da matéria adotei a prática de encaminhar, previamente, via mensagem eletrônica, para cada um dos matriculados nas turmas, uma série de listas de exercícios resolvidos (as vezes com outras duas ou três formas de resolução dependendo da complexidade do problema proposto).

Aquela avaliação continha apenas e tão somente (propositalmente) questões iguais aos exercícios resolvidos das listas fornecidas (alguns deles resolvidos em sala de aula muito recentemente antes da avaliação em referência e até com “exagerado” grau de detalhamento).

Trágico. Na verdade, assustador. Muitos dos Acadêmicos de um Curso de Engenharia não sabiam utilizar o celular ou o computador para consultar as questões iguais antes resolvidas nas listas que forneci. Outros não tinham material algum para consulta. Havia aqueles que, também, mesmo tendo como realizar consultas não sabiam ou não conseguiam procurar as soluções estivessem elas em meio físico ou remoto/virtual.

Em plena Quarta Revolução Industrial, na Era da Comunicação, no mundo da Digitalização, constatava-se, naquela ocasião, a existência de uma realidade a parte do desenvolvimento dentro de uma Universidade. Apenas, assustador.

Mesmo tendo alcance ao conhecimento “a um toque de dedo” muitos não conseguiam realizar a CONSULTA para fazer uma avaliação que era mera cópia de exercícios triviais fornecidos anteriormente e cujas soluções foram, também, previamente fornecidas.

Depois daquele dia fui incentivado a não mais repetir semelhante prática.

Carlos Magno Corrêa Dias
05/07/2020